7 - Começando a escrever


Como eu já disse às vezes você tem aquela inspiração e o filme parece rodar na frente dos seus olhos, na tela interna da imaginação. Outras vezes você tem que trabalhar duro pra chegar lá.
Começar do nada é sempre mais difícil. Há mais perguntas a responder do que quando você tem a bendita inspiração.
Mas às vezes podemos dar uma ajudinha ao processo criativo se estivermos atentos.

Resolvi dar um exemplo desses primeiro. Porque do seu lado todo dia acontecem milhares de coisas. Com você, com as pessoas que o cercam. Tudo é material para um bom roteiro.

Você é um bom material para um roteiro. As coisas que você vê, vivencia, pensa.
Desde os tempos de cronista que eu me uso como material de trabalho.
Tem muitos escritores e roteiristas que fazem isso: vão escrevendo a suas biografias aos pedaços. Mas esse não é o meu caso.

Muitas vezes eu parto de algo que aconteceu comigo, ou de um pensamento, de uma emoção, e extrapolo. Às vezes crio toda uma situação em cima de um fragmento, de um detalhe, de uma sensação. Outras vezes escracho o que está acontecendo comigo mesmo, crio personagens, dou-lhes vida - e no final o que é escrito nem tem mais a ver com a situação que originou todo o processo.
Quis dar esse exemplo primeiro porque você passa por situações assim no cotidiano e nem presta a atenção. Coisas interessantes estão acontecendo agora e poderiam ser seu próximo roteiro, se você estivesse ligado, pronto para ver a oportunidade.

Então vou contar primeiro o que aconteceu comigo no começo do ano.
Era uma noite dessas mornas. Tudo parecia calmo e eu me sentia bem comigo mesmo. Nada tinha acontecido de especial, nada de anormal. Eu só estava me sentido bem.
Daí jantei e fui escovar os dentes. Abri o armário com espelho do banheiro, peguei a escova e já ia pegar a pasta dental quando a porta do armário resolveu fechar na minha mão. Calmamente abri novamente a porta só pra ela se fechar de novo inexplicavelmente.
A porta do armário nunca tinha feito isso, e eu tentei abrir de novo. Mas ela insistia em fechar. Aquilo se repetiu por mais algumas vezes.
Eu confesso que isso estragou o meu humor. Você pode pensar que é pouco pra se perder o humor - mas tente ficar abrindo uma porta de armário com ela insistindo em fechar umas 20 vezes no seu dedo.
Eu percebi que tinha me irritado. E aquela prometia ser uma noite perfeita. Então, agora com a boca cheia de espuma de pasta de dente, e escovando os dentes com meu dedo doendo, pensei nas variações de humor que assolam o ser humano. Em como a sensação de felicidade pode ser fugaz, pode se evaporar de um momento para o outro. Em como o que parecia um dia perfeito se transforma num péssimo dia - e quantas vezes a gente passa por esse tipo de situação.

E pensando assim pensei que tudo isso daria um roteiro de um curta. Até pra levar as pessoas a refletirem sobre tudo isso e não se deixarem levar - como eu - por tropeços tão pequenos. E foi assim que surgiu a idéia do roteiro HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO.

Claro que eu podia só ter me chateado, saído do banheiro e procurado uma chave de fendas pra consertar o maldito armário. Mas uma idéia levou a outra e eu saí com mais uma idéia.
Quis mostrar aqui o encadeamento de idéias, de pensamentos, de colocações que me levaram até esse roteiro. O que importa mais pra você não é o roteiro em si, mas o processo de criação.

Você precisará abstrair do gênero que você gosta ou não para perceber o processo de criação que eu vou descrever nas próximas aulas. Se conseguir perceber o mecanismo pode usar esse processo pra escrever um filme de suspense - bem diferente dessa comédinha que eu escrevi.

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