13 - Antes, durante e depois


Todo mundo tem isso o tempo todo: o antes, o durante e o depois.
Veja você agora: tem um antes de chegar no curso, o durante o curso e o depois do curso.

Antes de chegar aqui tem uma longa história, certo? Você nasceu, e é assim que geralmente tudo começa. Quem é você? Que tipo de infância teve? E a adolescência? Que tipos de filmes via? A partir de quando decidiu/quis ser roteirista? Já escreveu alguma coisa antes? Foi filmada? Você ficou contente com o que escreveu antes do curso?

Daí tem o durante. Durante o curso você vai ter grandes idéias ou não. Vai achar que o curso lhe abriu caminhos ou vai se aborrecer porque o professor fala pra caramba e não chega nunca no roteiro... rsss
Vai achar que aqui tem grandes idéias para serem aproveitadas - ou que isso tudo você já sabia. Vai deixar sua namorada (ou namorado) pra fazer o curso ou vai deixar o curso pra namorar. Vai ficar esperando pelas aulas ou só vai lembrar quando receber um e-mail. Vai começar um roteiro junto comigo ou vai esperar eu terminar esse pra daí você começar o seu.

Depois do curso você vai sentir que agora pode mais que antes ou que deu na mesma. Pode escrever um roteiro inspirado ou achar que não era isso que você queria e no final seu negócio é ser ator. Não sei. Tudo pode acontecer.

O personagem é assim também. Tem o antes, o durante e o depois. Ou seja: tem o de onde ele veio, onde ele está e para onde ele vai.

Quem estabelece tudo isso é você, o roteirista, o criador de tudo isso. É você, e só você, quem sabe de tudo isso a respeito de seus personagens. E se não sabe... deveria saber. Porque se você não sabe quem é que vai saber, não é?

Então pegue o Marcos, de HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO. Eu o descrevi lá na aula 9, enquanto estava procurando seu nome e descrevendo o cenário onde tudo se passa.
Tudo num filme tem que falar sobre o personagem: suas roupas, seu modo de falar/andar, o lugar onde mora/trabalha, as pessoas com quem prefere ou não conviver, manias, etc

Tudo que você descreve vai para o roteiro, seja nas primeiras páginas (como vou mostrar na próxima lição), seja nas entrelinhas do próprio roteiro. E quanto mais você souber de seus personagens melhor. Agora é a hora: não dá pra ficar escrevendo um roteiro pra lá no meio parar pra tentar descrever o personagem principal.

Então descreva-o agora. Claro: faça mil rascunhos se precisar - o que hoje é fácil com os programas de texto. Mas deixe o personagem completo. Nada pior que aqueles personagens vazios que se der um vento leva o coitado voando.
Esse cuidado é pra todos os personagens, do principal até o menor deles. Do galã até o porteiro que só aparece por 1 minuto e meio. Não importa: todos os papéis são importantes. Todos! Roteiristas e diretores que sabem disso e põe em prática são os que fazem os grandes filmes, sem barrigas, sem paradas, filmes que fluem aos nossos olhos e que quando acaba você olha no relógio e não acredita que já se passaram 2 horas.

Então seu personagem está vindo de algum lugar, está aqui agora e vai para outro lugar. Antes-durante-depois da cena.

Há uma mudança? A situação pela qual que ele passa o transforma de alguma forma? É uma abordagem de roteiro.

Por outro lado ele pode passar por tudo e não mudar nada, o que faz com que o roteirista critique o marasmo de certos seres humanos que insistem em não aprender.

Tudo vai depender da sua filosofia de vida, da forma como você enxerga as coisas e do que quer colocar no seu filme.

O ator Bill Murray gosta de fazer filmes onde o seu personagem começa meio ranzinza e vai sofrendo uma transformação no decorrer do filme até ficar simpático. No início a gente não dá muita bola para o personagem dele. Depois vai vendo a mudança, começa a se importar com o personagem e a torcer por ele. Veja por exemplo O Feitiço do Tempo.

Quando o público se importa com o personagem então você ganhou o dia. Ou o filme. Esse é o segredo. Em Um Monge à Prova de Balas o dono do cinema onde o herói trabalha aparece em poucas cenas. Mas ele é tão marcante  (e a interpretação do ator tão densa) que quando ele é assassinado a platéia leva um choque. Porque se importava com ele, mesmo sendo um papel secundário.
Esse é o segredo: personagens densos. Aliás muito além de meros personagens: pessoas que a gente pode conhecer no dia a dia e que estão ali sofrendo, rindo, aproveitando a vida ou sendo aprisionado por ela.

O público se importa com personagens que sejam reais, como se existissem mesmo, fossem de carne e osso. E isso só acontece quando você tem o antes-durante-depois do personagem.

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