17 - Divisão de cenas e sonoplastia


Cinema é ação. Tem sempre algo acontecendo na tela, seja fora ou dentro do personagem. Ele pode estar pulando de prédio em prédio ou totalmente imóvel - e ainda assim teremos sua atividade interna, seus pensamentos, sentimentos, emoções e toda a trilha sonora que vai emoldurar tudo isso: música, respiração, batimento cardíaco. Todos esses sons juntos ou separados, criando a atmosfera da ação.

Por isso sempre que você imaginar um determinado som na cena, ou um tipo de música, dê uma dica ao diretor. Normalmente dou essas indicações entre parênteses, pra facilitar a vida  de quem lê o roteiro:
(Sonoplastia: música cômica, latina)
(Sonoplastia: som de passos)

Como se divide as cenas?
Uma forma bem interessante é você separar por ambiente.
Mudou de cena no interior da casa para o exterior = mudou o número da cena.
A outra forma é por seqüência. Por exemplo: na Cena 1 o personagem chega em casa, abre a porta da sala e se joga pesadamente na poltrona. Liga a TV e começa a ver o telejornal. Daí ouve o som de um prato quebrando na cozinha. Olha para a porta interna que dá pra cozinha e se levanta.

(Sonoplastia: música de suspense) O personagem vai até a porta da cozinha.
Estamos prontos para a Cena 2, na cozinha. O personagem passa pela porta e ouve novamente o barulho, mas não vê o que é. Amedrontado ele pega um rolo de macarrão que estava em cima da mesa para tentar se defender.

Cautelosamente ele percorre toda a cozinha em busca do que ou quem está fazendo esse barulho. A tensão aumenta. Ele procura num extremo da cozinha - e agora ouve o barulho na outra ponta. Susto. Toma um susto, cria coragem e vai na direção do barulho. E vê finalmente: é o seu gato, mexendo nos utensílios. Suspira aliviado.

Daí temos na Cena 1 a seqüência da sala e na Cena 2 a seqüência da cozinha. Isso facilita pra quem for filmar o seu roteiro.
É importante sempre dar dicas do local e do tempo para o diretor:
CENA 1 - INT quarto de Alice - Dia
CENA 12 - EXT praça local - Noite
Sendo INT = Interna e EXT = Externa. Isso facilita a filmagem e também facilita pra você se orientar durante o processo de escrever o roteiro.

Cuidado com a passagem de tempo. Não fique pulando do dia pra noite sem explicar para o diretor e para o público o que está acontecendo.
Isso nos leva a outras questões importantes:
-          em que época se passa a sua história?
-          Quanto tempo leva (em dias, meses e anos)? Uma história pode acontecer em minutos e pode acontecer em anos.

Outro ponto a se considerar é a duração do seu filme na tela. O que você está escrevendo? Um curta ou um longa?
Curtas tem até 15-20 minutos e longas de 70 até 120 minutos (longas normais. Sagas duram mais de 3 horas, mas sejamos modestos no começo).
Daí vem a pergunta: como saber quanto tempo dura um roteiro?
Um amigo engraçadinho disse que era fácil saber: era só filmar tudo e depois de pronto o filme a gente olharia no contador de tempo do DVD...

Na prática podemos nos orientar pelo seguinte: uma página dá cerca de 1 minuto de filmagem. Pronto! Se você vai escrever um curta tem até 15 páginas para contar toda a trama.
Isso inclui descrições de cenários, de sonoplastia, tudo. 15 páginas no máximo.

Um aviso: capture a atenção do público logo de cara.
O público não tem muita paciência com cenas lentas, e aquele tipo de filme que só acontece nos últimos 2 minutos. Se estiverem num festival de curtas vendo seu filme vão se desconcentrar e começar a conversar. Se estiverem vendo um DVD do seu longa em casa vão acabar trocando de DVD. Se for na TV mudam de canal.
Quanto tempo você agüenta até um filme esquentar? Viu? É pouco.

Syd Field - autor de diversos livros sobre roteiro - estima em 10 minutos num longa. Esse é o tempo para o espectador decidir se vai ver o seu filme ou o de outro. Por isso chame a atenção desde o primeiro minuto, desde a primeira página. Se o espectador já teve que esperar por todos os créditos dê-lhe história logo no primeiro minuto de filme.

Tem quem diga que um filme não pode ter narrador. Bobagem. Um filme precisa ter o que ele precisa ter. Nem mais e nem menos. Por isso ponha o que ele precisa ter. Sem pressão de ninguém.

E isso é outro detalhe importante: se você começar a se deixar pressionar por todo tipo de influências vai começar a fazer o mesmo que todos fazem - quando devia estar desenvolvendo seu próprio estilo.

Não ponha uma mulher tomando banho nua só porque você acha que o espectador vai ver um filme parado só pra ver a mocinha pelada no penúltimo minuto. Ele não vai ter essa paciência toda e a cena gratuita vai ficar com cara de apelação.

Cuidado com a linguagem. Não coloque um bandido falando como num livro de Machado de Assis - mas não ponha todo mundo falando como bandido. Observe as pessoas e como elas falam. Nem todas falam aquele amontoado de gírias que são um tremendo clichê para humoristas.

Escreva um roteiro que você vai gostar de ver depois de filmado. Não vá fazer mais do mesmo - porque já fizeram isso e você não terá chance. No seu dia-a-dia existem pessoas, fatos e acontecimentos que dão uma bela história. Já disse isso mas nunca é demais repetir.

Seja original. Não vá fazer Carandiru de novo só porque o primeiro fez sucesso. Seja honesto com você e conte a sua história.
Por falar nisso: sua história pessoal acaba sendo um grande material para escrever

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